Eu dependo da graça…

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É interessante como nós podemos compreender que somos salvos pela graça de Deus, mas não conseguimos aceitar o fato de que só podemos viver através dela.

É claro que o nosso discurso não é este. Nós dizemos que dependemos da graça de Deus para viver, mas isto, muitas vezes, nada mais é do que uma frase bonita.

Graça é um favor que eu não mereço. Se eu mereço, não é graça. Daí que é só quando eu tenho consciência do quanto eu não mereço, que eu, finalmente, começo a reconhecer minha desesperada necessidade desta graça de Deus.

Mas, a imensa maioria de nós, não pensa assim.

Lá no fundo, nós achamos que merecemos alguma coisa; para não dizer, muita coisa. É como se tivéssemos um crédito acumulado com Deus, como se fôssemos salvos pela fé, mas sustentados por nossas próprias obras e realizações.

Ou seja, nós aceitamos que começamos a ter comunhão com Deus pela Sua graça, através do que Jesus fez por nós na cruz do Calvário, mas, acreditamos que mantemos nossa comunhão com Ele através de nossas obras e justiça própria.

A verdade, é que nossa religiosidade é tão cheia de interpretações pessoais e autoenganos, que nos convencemos que somos mais justos do que os outros, por causa daquilo que fazemos ou deixamos de fazer. E, de repente, lá no íntimo, achamos que Deus e a vida nos devem algo, por tudo de bom que temos sido e realizado.

Eu sei que nenhum de nós reconhece isto abertamente. Mas, é algo que está implícito no modo como lidamos com a fé e a vida.

É então que eu percebo o quanto a nossa chamada “fé evangélica” tem, aos poucos, deixado de ser evangélica. Porque a Bíblia claramente afirma que “pela graça somos salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

Mas se eu começo a me vangloriar da minha espiritualidade e me enxergar melhor que alguém ou acima da média, algo está desajustado dentro de mim, porque a Bíblia afirma que não há um justo, nem um sequer; que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus e que todos nós só somos justificados diante de Deus pela nossa fé em Jesus Cristo.

Será que é tão difícil aceitar que todos nós mancamos e somos rachados interiormente? É tão difícil abrir o coração e clamar pela graça de Jesus, não só para nos salvar, mas para nos sustentar a cada dia em Sua presença? É tão difícil, não só começar dependendo do que Jesus fez por nós na cruz e na ressurreição; mas continuar, cada dia, dependendo daquilo que Ele fez por nós?

Os reformadores do século 16 pregaram “só Cristo”, “só a fé”, “só a graça”, “só a Escritura” e “só a Deus a glória”.

Só que em nossos dias parece que estamos ouvindo um “novo Evangelho”, onde você tem que conquistar a sua salvação e justiça. As pessoas estão fazendo “sacrifícios”, “votos” e “promessas” para depois esperarem algo em troca de Deus.

Mas onde estão aqueles que vão, simplesmente, se render prostrados, humildes, em assombro e adoração, diante de Deus, clamando unicamente por Sua graça e favor sobre as suas vidas?

Paulo escreveu: “Assim como recebestes a Cristo Jesus, como Senhor, assim, andai nele”. Nós o recebemos pela fé e precisamos caminhar nele pela mesma fé.

Onde estão os que vão reconhecer, que não são apenas salvos pela fé; mas, que vivem todos os dias pela fé no que Jesus fez naquela cruz? Onde estão os que reconhecem que não só precisaram da misericórdia de Deus para terem um encontro com Jesus, mas que precisam dela todos os dias para continuarem a caminhar? Onde estão aqueles que vão reconhecer que não apenas são justificados pela fé no sangue de Jesus, mas que são santificados pela fé no sangue de Jesus derramado na cruz em seu lugar? A Bíblia diz que “o justo viverá da fé”.

Crer na graça de Deus é muito mais do que apenas falar sobre ela, ensinar sobre ela, cantar sobre ela ou mencioná-la a cada vinte palavras em uma mensagem. A graça de Deus não é um tema, uma crença, uma frase de efeito, um movimento, uma bandeira, um modismo ou uma forma mais leve e contextualizada de viver. Nunca, jamais. A graça de Deus é Cristo na Cruz reconciliando Deus e os homens. O Deus eterno se fez Homem em Jesus Cristo para buscar e salvar o que estava perdido. A graça necessariamente lida com o pecado humano. A graça necessariamente fala da justiça de Deus, da cruz e do preço que Jesus pagou ali. Como escreveu Leighton Ford há anos atrás: “O Evangelho é uma cruz no coração de Deus”.

Crer na graça de Deus, revelada em Jesus, é ter a consciência do quanto nós necessitamos dela todos os dias e o quanto ela é a razão de todo bem que Deus faz em nossas vidas.

Paulo escreveu certa vez: “Não sou digno de ser chamado apóstolo… mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a Sua graça para comigo não foi vã, antes me esforcei mais do que todos eles. Mas, não eu; e sim, a graça de Deus comigo”.

O que ele estava dizendo era: “eu não sou digno”, mas, “se eu sou algo, eu só o sou, por causa desta graça de Deus em minha vida”.

Tudo é porque Deus não me trata segundo as minhas imperfeições, contradições, ambiguidades e pecados, mas, segundo a Sua misericórdia. Tudo é porque Ele não me dá o que eu mereço; mas, sim, o que o Seu favor escolhe me conceder por causa do que Cristo fez por nós na cruz. Falar da graça sem falar da cruz de Jesus é anunciar outra mensagem.

Tudo, absolutamente tudo, é por causa do que Jesus fez por nós na cruz, entregando a Sua vida em nosso lugar.

É quando eu finalmente tenho consciência disto, que eu deixo de ser juiz do meu próximo, porque eu sei que se não fosse esta graça de Jesus, eu mesmo jamais teria conseguido sobreviver e nem estaria mais aqui.

Eu aprendo que a graça de Deus é suficiente, porque o Seu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza. Então, quanto mais consciência eu tenho da minha fragilidade, mais eu terei consciência do favor de Deus sobre mim. E isto, simplesmente, porque eu sei que se não fosse o Senhor que esteve ao meu lado, eu jamais teria conseguido. Eu dependo dele todos os dias.

Não é quem eu sou, nem quem eu fui; não é o que eu fiz e nem o que eu faço, mas é a Sua graça em minha vida.

Eu sinceramente me arrependo dos meus pecados, conscientemente clamo pela misericórdia de Deus e, dia após dia, coloco toda a minha fé unicamente em Jesus e no que Ele fez por mim na cruz, porque foi Ele quem se entregou por mim.

Quando a graça de Deus me alcança tudo que eu posso dizer é: “Obrigado, Senhor”! Tudo que eu posso fazer é me prostrar diante dEle e dar glórias ao Seu nome. Tudo que eu posso fazer é continuar crendo e dependendo deste favor de Deus, revelado em Jesus, para viver a cada dia.

Que, hoje, você e eu possamos nos aproximar do trono da graça, para alcançarmos graça e socorro, em tempo oportuno.

O Deus de toda graça guarde as nossas vidas, em Cristo Jesus.

Paulo Cardoso

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